O Parque Nacional da Gorongosa (PNG) apreendeu recentemente três canoas, duas redes de pesca de 300 metros de comprimento e 1,5 metros de largura e mais de 300 kg de peixe no Lago Urema.

Os pescadores contraventores, em número indeterminado, ao se aperceberem à distância da presença de fiscais  do PNG, que na altura acompanhavam uma equipa dos Serviços Científicos que ia realizar trabalhos naquela zona, evadiram-se do local abandonando o produto e o equipamento de pesca.

Trata-se de homens da comunidade de Mueredzi, comarca do distrito de Muanza, estabelecida ilegalmente no interior do PNG durante o conflito armado terminado em 1992.

Alguns elementos da referida comunidade praticam  a pesca ilegal e predatória no Lago para fins comerciais.

Para além de criar um desequilíbrio ecológico dos ecossistemas do Urema, a fixação daquela aldeia dentro dos limites da área de conservação, impede a livre circulação dos elefantes para o Norte do Parque. Este facto obriga os paquidermes a abrirem novas rotas e a criarem conflito homem/animal, caracterizado por mortes de pessoas e destruição de propriedades agrícolas, em algumas povoações da Zona Tampão do PNG.

A pesca furtiva em grande escala pode levar o esgotamento dos recursos haliêuticos, pondo em causa a sobrevivência de diversas espécies de aves aquáticas residentes e migratórias, que vêm para o Parque durante o Verão fugindo do intenso frio no Inverno do Hemisfério Norte, e répteis que se alimentam à base de peixe do manancial natural.

São numerosos bandos de pelicanos, grous, cegonhas, corvos-marinhos-africanos, garças, mergulhões-serpente, colhereiros-africanos, ibis-sagrados  e mais, que habitam as zonas húmidas e exercem a sua actividade piscatória no Lago, que também acolhe presumivelmente o maior número de Crocodilos do Nilo de grande porte do Planeta.

A administração do PNG tem trabalhado desde há um tempo a esta parte para o assentamento da comunidade de Mueredzi com cerca de 70 famílias fora dos limites oficiais e legais do PNG, mas a população e a liderança comunitária desta comunidade não cooperam para a viabilização do aludido plano.

Também inviabilizaram no ano passado a implementação de um programa do Departamento das Relações Comunitárias que visava  regular as quantidade de  peixe por família destinadas  ao consumo doméstico para garantir o equilíbrio ecológico dos recursos de Lago Urema, calculadas com base em padrões internacionais da Organização Mundial de Saúde.

Usando embarcações de bordo a remo alguns elementos de Mueredzi continuaram a praticar a pesca predatória com redes de cerco de grandes cardumes de talapia e de peixe-gato. O pescado depois de fumado é transportado em camiões e vendido nos mercados informais da Beira e do Norte do País, sobretudo na província de Nampula.

Fotos: Departamento de Conservação e Carlitos Sunza

Texto: Carlitos Sunza (Departamento de Comunicação do PNG)