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Gorongosa

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Em 2005 um turista chegou pela primeira vez à Gorongosa. O Fiscal do Parque, no portão de entrada, sugeriu que voltasse para trás porque não havia muito para ver. Ele no entanto persistiu e conduziu durante cerda de seis horas através do Parque da Gorongosa e viu apenas um macaco-cão, um facocero e uma imbabala. Nove anos depois, esse mesmo turista visitou de novo a Gorongosa e teve uma experiência extraordinariamente mais satisfatória – a nossa última contagem aérea de fauna bravia permite perceber porquê.

 

Screen Shot 2014-12-12 at 16.02.36.png Leoa e inhacosos no tando (planície aluvial) da Gorongosa (Foto de Michael dos Santos)


Entre 25 de Outubro e 4 de Novembro, o Director dos Serviços Científicos da Gorongosa, Marc Stalmans, dirigiu uma contagem aérea alargada das zonas sul e central do Parque Nacional da Gorongosa. Estas áreas representam cerca de 50% do Parque mas são consideradas o melhor habitat e possuem a maior densidade de fauna bravia. Os resultados da contagem revelam um extraordinário renascimento das populações de muitas espécies animais. (A maior parte da fauna bravia foi dizimada durante os 16 anos da Guerra de Desestabilização em Moçambique, de 1977 a 1992.) Foram contados 71,086 herbívoros de 19 espécies. Os resultados representam uma grande história de sucesso da conservação em África, e o um marco histórico do Projecto de Restauração da Gorongosa – uma parceria público-privada entre o Governo de Moçambique e a Fundação Carr, uma organização dos EUA sem fins lucrativos.

 

O Dr. Stalmans está entusiasmado com os resultados: “A contagem confirma que as populações de fauna bravia estão a recuperar rapidamente no Parque. Houve um aumento marcante desde 2007 da densidade de espécies como inhacosos, impalas e cudos. Os inhacosos recuperaram para o que é provavelmente a maior população de qualquer área protegida em África.” De acordo com o Dr. Stalmans, os resultados também são um bom indicador para o crescimento contínuo destas populações no futuro. "Os resultados da contagem indicam que todas as grandes espécies de herbívoros, com excepção da subespécie crawshayi de zebra, agora ocorrem em números que são suficientes para a sua recuperação contínua e viabilidade."

 

No entanto, nem todas as espécies estão a fazer tão bem como se esperava. Os números de bois-cavalos (ou gnus) está abaixo das expectativas. Os leões, seus predadores naturais, poderão ser uma razão para isso. Também os caçadores furtivos, que são conhecidos pela sua apetência pelas caudas dos bois-cavalos. Um ou ambos os factores poderão explicar os números inferiores ao que se esperava desta espécie. O Dr. Stalmans testemunhou os efeitos da caça furtiva em primeira mão durante a pesquisa - dois caçadores foram apanhados em flagrante com duas gondongas mortas pouco tempo antes. Stalmans também observou a exploração comercial agrícola e de abate de árvores em algumas áreas de fronteira com o Parque. O Dr. Stalmans adverte: "Apesar do crescimento muito encorajador dos números da fauna bravia, é claro que as actividades ilegais continuam a ser uma ameaça séria. Os esforços de aplicação da lei precisam de ser sustentados e mesmo aumentados em muitas parte do Parque."

 

Apesar da evidência dos actuais desafios para proteger a Gorongosa, esta contagem deu a todos na equipa da Gorongosa um enorme impulso moral, particularmente ao Departamento de Conservação, liderado por Pedro Muagura. São os cerca de 130 Fiscais liderados por Muagura que patrulham o Parque no dia-a-dia, protegendo os animais da caça furtiva. Pedro Muagura disse-nos: "Eu costumava vir à Gorongosa, no final da década de 90 com os meus alunos do Instituto Agrícola de Chimoio e era muito deprimente, pois podíamos ver um belo Parque, com uma bela flora e abundância de água doce, mas não havia animais. Precisávamos ficar mais de um mês para ver um único inhacoso ou mesmo algum excremento de elefante e os alunos não podiam fazer qualquer identificação de animais ... Mesmo o macaco-cão era difícil de detectar. Agora tudo mudou e basta apenas percorrer a picada do portão de entrada até Chitengo, mesmo antes de fazer um verdadeiro safari de jipe, para ver centenas de macacos e, pelo menos, várias espécies de antílopes. "


Screen Shot 2014-12-12 at 16.02.59.png Uma matriarca lidera uma manada de elefantes no tando (planície aluvial) da Gorongosa (Foto de Jeff Trollip)

 

Estes resultados irão apoiar as futuras tomadas de decisão de gestão no Parque, e permitir aos cientistas prever como o ecossistema se irá recuperar. A restauração da Gorongosa oferece à ciência uma oportunidade única: observar o que acontece com um milhão de acres (400.000 ha) de natureza quando a maioria dos animais de grande porte são removidos. As lições aprendidas poderão formar a base para projectos de restauração noutras partes do mundo. Como Stalmans observa: "A recuperação da fauna bravia ocorre em proporções que são muito diferentes daquelas documentadas em tempos históricos. O sistema mudou de ser dominado por búfalos para um sistema dominado por inhacosos. Há oportunidades interessantes de investigação que precisam ser retomadas, a fim de ajudar ao desenvolvimento de uma melhor compreensão da dinâmica do sistema, o que irá apoiar a gestão e a tomada de decisões.”

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